Hikaru Komiyama ganhou o apelido de ”Little Beast” pela comunidade de powerlifting. A força bruta em um corpo pequeno, a precisão dos movimentos e o olhar sereno sob a barra a tornaram um fenômeno nas redes sociais – mas sua origem tem um peso muito maior.
Antes de se tornar atleta, Hikaru lutava contra a desnutrição severa, com histórico de distúrbios alimentares e baixa autoestima. Seu corpo era frágil, e a ideia de erguer cargas parecia distante da realidade. Foi dentro de uma academia modesta em Tóquio que ela iniciou um processo silencioso, longe das câmeras e da aprovação externa, e focado em um único objetivo: sobreviver com força.
Quando o físico não define a potência
Atualmente, Hikaru domina três dos principais padrões do powerlifting:
- Deadlift: já ultrapassou a marca de 3 vezes o próprio peso corporal
- Agachamento: executa com controle e profundidade técnica, mesmo com cargas acima de 100 kg
- Supino reto: transformou o ponto fraco em destaque, com projeções regulares de 1,5x seu peso
O que impressiona não é apenas o número, mas a forma: a japonesa treina com precisão, evitando impulsos desnecessários e priorizando o controle sobre o ego. Seus vídeos acumulam milhões de visualizações não pelo espetáculo, mas pela consistência de quem se construiu tijolo por tijolo.
Nos treinos, ela exibe domínio técnico e inteligência corporal rara – sinal de que sua evolução não veio por acaso, mas por estudo e escuta atenta do próprio corpo.
Um ícone para quem carrega cicatrizes invisíveis
Além dos treinos, Hikaru se tornou uma referência para mulheres que enfrentam desafios parecidos: transtornos alimentares, baixa autoconfiança e pressão estética.
Sua mensagem é direta e poderosa: ”Eu não treino para parecer forte. Eu treino porque aprendi que sou forte.”
Essa autenticidade ressoa com um público que busca identificação real. Nas redes sociais, seus relatos sobre recaídas, ansiedade e superação têm tanto engajamento quanto seus levantamentos recorde. Ela se apresenta sem filtro, sem tentar parecer perfeita, e isso – no mundo fitness – é raro.
O impacto vai além da barra. Hikaru hoje inspira fisioterapeutas, nutricionistas e treinadores a enxergarem seus alunos como pessoas antes de clientes. Sua abordagem mostra que a jornada de força não se resume a músculos, mas envolve reconstruir mente, corpo e identidade.
Força bruta, propósito leve
O mais interessante na trajetória de Hikaru Komiyama é que ela não usa a musculação como válvula de escape, mas como forma de conexão. Com os outros e consigo mesma. Ela treina porque entende que seu corpo precisa, e porque aprendeu que o progresso silencioso – aquele que não pede aplauso – é o que realmente muda a vida.
Em meio a PRs, ela fala sobre disciplina. Em meio a treinos longos, compartilha medos. Em vez de vender fórmulas, oferece humanidade.
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