A creatina sempre teve um lugar cativo no universo dos treinos, das academias e da suplementação voltada ao desempenho físico. No entanto, novas pesquisas vêm revelando um lado menos conhecido dessa substância: sua possível influência sobre o funcionamento cerebral — com destaque para a depressão.
O que antes parecia um uso improvável começa a se destacar em estudos clínicos. A pergunta que move muitos desses trabalhos é direta: será que um suplemento tão comum pode apoiar também a saúde emocional?
A base biológica por trás da hipótese
O cérebro humano, embora represente apenas 2% do peso corporal, consome cerca de 20% da energia produzida pelo corpo. Essa energia depende de uma substância chamada ATP. E é aí que a creatina entra em cena: ela acelera a regeneração do ATP, o que pode influenciar diretamente a função cerebral.
Conforme o blog Philly Integrative, essa conexão entre metabolismo energético e depressão é significativa. Em quadros depressivos, pode haver disfunções na geração de energia no sistema nervoso. A creatina, nesse contexto, aparece como um potencial modulador desse desequilíbrio.
Quando a creatina foi parar nos estudos de psiquiatria

O interesse da ciência sobre essa relação ganhou força com pesquisas destacadas por veículos como o BarBend. Em uma das análises clínicas citadas, pessoas com depressão maior que receberam creatina com antidepressivos apresentaram melhora mais acelerada dos sintomas — em comparação com os pacientes que usaram somente a medicação.
Outros estudos reforçam que esse tipo de suplementação pode atuar complementarmente aos fármacos tradicionais. A explicação é que a creatina não interfere nos mesmos caminhos bioquímicos dos antidepressivos, mas oferece uma base energética mais estável para o cérebro responder ao tratamento.
O que os ensaios clínicos recomendam?
Grande parte dos estudos utilizou creatina monoidratada — a forma mais comum e segura — em doses entre 3 e 5g por dia. O tempo de observação variou de quatro a oito semanas. A segurança e o custo acessível da substância facilitam esse tipo de experimento.
Importante: em todos os casos, a creatina foi usada como recurso adicional, nunca como substituta de medicamentos psiquiátricos. A orientação médica é indispensável para avaliar qualquer proposta terapêutica.
E quanto aos riscos?
Os dados mais recentes continuam apontando que a creatina é bem tolerada. O suplemento é objeto de centenas de estudos, e seus efeitos adversos são, em geral, leves — retenção hídrica e desconforto estomacal são os mais relatados. Não se confirmou, até o momento, risco significativo à função renal em pessoas saudáveis.
Para quem possui histórico clínico mais complexo, como doenças renais ou distúrbios hepáticos, a consulta com profissionais especializados é essencial antes de iniciar o uso.
Para além da academia
Se os dados continuarem positivos, a creatina pode deixar de ser um suplemento exclusivo do mundo fitness para integrar, com respaldo científico, estratégias integradas de saúde mental.
Essa transição, que une nutrição, neurologia e psiquiatria, reforça a importância de abordagens mais amplas e acessíveis no cuidado com transtornos como a depressão.
Pessoas que já utilizam creatina para treinos talvez estejam colhendo, sem saber, benefícios adicionais relacionados ao humor e à função cognitiva. Para outros, o suplemento pode representar uma nova possibilidade de apoio, desde que integrado a um plano terapêutico individualizado.
O veredito
A conexão entre creatina e depressão ainda é recente, mas os dados iniciais chamam atenção. O fato de se tratar de uma substância bem estudada, barata e amplamente disponível torna essa linha de pesquisa especialmente relevante.
A creatina pode não ser a solução definitiva, mas, em uma estratégia completa e com o acompanhamento certo, pode se revelar uma peça importante no quebra-cabeça da saúde mental.
Fontes consultadas
- BARBEND. Can Creatine Reduce Depression? 2024.
- MEN’S HEALTH UK. Creatine and Depression Treatment. 2024.
- PHILLY INTEGRATIVE. Creatine Supplementation for Depression. 2024.